quarta-feira, 24 de setembro de 2008

OS POBRES E OS POBRES

“Em casa onde não há pão, todos ralham”... e todos têm razão!
Sei que há por aí quem me desminta, porque quem sabe é o Povo, e o Povo não diz assim!...
Estamos preocupados com as agressões, as ofensas, os assaltos, os roubos... e toda a espécie de crimes que se estão passando perto e longe de nós, numa “amostra” jamais vista por cá! Vemos imagens e lemos reportagens que nos deixam a pensar, e ficamos a pedir a todos os santos que estes males não se agravem, nem haja maus contágios; seria mal para todos, e perigava a já frágil segurança que pressentimos e sentimos.
O número dos considerados Pobres, entre nós e um pouco por todo o mundo, vai crescendo; juntemos alguns Reclusos que deixam a Prisão, sem projectos de vida ou garantias de reinserção. Ninguém sabe como toda esta corrida vai acabar, e as soluções propostas nem sempre vão direitas ao “assunto”; há quem se fique pelos bons princípios, nas boas reflexões, nas estatísticas, nas contas que somam e...seguem. E isto, enquanto alguns vão ficando pelo caminho, e cada vez mais distantes de parâmetros da mais justa e elementar dignidade.
Sabe-se que o mais urgente é “dar a cana” ou... “ensinar a pescar”; mas todos sabemos também que, enquanto não há cana, nem rio, nem peixe, é preciso dar resposta às necessidades ditas primárias: um almoço frugal ou uma ceia simples, para anestesiar o estômago; ou uma roupa que ajude a cobrir dignamente o corpo; ou umas moedas que possibilitem a aquisição do medicamento; e por aí adiante...
No Domingo, 21 de Setembro, o Papa lançou um apelo – em nome dos que não sabem falar nem têm microfones grandes – para “que se adoptem e se apliquem, com coragem, as medidas necessárias para erradicar a extrema pobreza, a fome, a ignorância e o flagelo das doenças que atingem, sobretudo, as pessoas mais vulneráveis”; o Santo Padre espera que estes momentos de reflexão – refere-se à 63ª Sessão da ONU – “possam reforçar o compromisso de defender a dignidade de cada pessoa humana e de construir um mundo onde haja mais solidariedade , liberdade e paz”.
Governantes e peritos ocupam-se na discussão dos “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”; a erradicação da pobreza está na ordem do dia, como um dos grandes objectivos das Nações Unidas, até 2015.
Grupos e organizações, mais ou menos internacionais, mais ou menos nacionais e locais, estudam causas, consequências e programas de acção para erradicar ou minimizar situações e efeitos da pobreza. Muito bem!
Temos, assim, de um lado os Pobres e os Reclusos e, do outro lado, os que pensam os problemas dos Pobres e dos Reclusos, ou para eles programam acções e elaboram projectos.
Os Pobres e os Presos são Pessoas! Muitos deles, bem capazes de reflectir e avançar propostas...
Para quando mais tempos e ocasiões para os ouvir, a sério e sem medo? Para quando caminhar com eles? Para quando fazer coisas com eles, e não apenas sempre para eles? Para quando fazer dos Pobres protagonistas das suas soluções?
São os Pobres que ensinam aos Pobres onde podem encontrar resposta para as suas urgências; são eles que dizem os caminhos da pessoa ou da instituição que acolhem; eles segredam uns aos outros onde existe uma casa abandonada onde podem recolher-se; eles repartem o pedaço de pão, já pequeno, mas que chega para todos! Os pobres sabem o que é sofrimento, por isso repartem; os que assim não fazem, procedem mal...
Mas são também os Pobres, especialmente aqueles que trabalham, que sabem dizer aos seus irmãos Pobres que não é justo viver à custa dos outros nem dos subsídios estatais. Eles sabem e podem ajudar os seus “companheiros”a procurar soluções mais estáveis; eles interpelam e sugerem às Pessoas, Instituições, Autarquias e Governos processos de ajuda e proximidade que humanizem as ofertas, na dignidade e no respeito por quem as recebe.
Vem aí o 17 de Outubro,”Dia Mundial para Erradicação da Pobreza”. Não vamos esquecer que diariamente morrem 50 mil pessoas de pobreza extrema em todo o mundo; e que aproximadamente metade da população mundial vive em situação de pobreza; e que em Portugal os números ainda rondam os dois milhões!
O apelo é de nos levantarmos, e de fazermos pelos Pobres e com os Pobres aquilo que ainda nos é possível e exigido fazer, por eles e com eles! Por justiça.
Aveiro, 23 de Setembro de 2008
P. João Gonçalves

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